segunda-feira, 25 de maio de 2009

Uma anja, um anjo e um demônio

Ontem, domingo a tarde, fui ao cinema assistir ao filme Anjos e Demônios. Primeiro, embora eu seja uma cientista, e meu blog se chame Em Defesa do Iluminismo, eu não sou uma illuminati!! Segundo, eu não prego a destruição da Igreja Católica. Na verdade, toda vez que eu viajo a outro país, sempre dou um jeito de visitar alguma igreja das cidades que vou. Acho elas bonitas e é uma boa oportunidade para aprender sobre as pessoas e a história da cidade. De qualquer maneira, terceiro: o bóson de Higgs NÃO é a partícula da criação, como o filme parece implicar. Ele á a partícula que, supostamente, fornece massa a toda a matéria visível do universo. Só isto... :)

O filme é meio estilo MTV, mas tem uma coisa nele que é especialmente boa: ele mostra uma mulher na direção de um experimento no CERN (Genebra - Suiça), uma mulher que não é só bonita, mas inteligente também. O que não é comum nos filmes, uma mulher cientista que não seja o estereótipo do cientista maluco. Se bem que eu estive no CERN em junho de 2005 para uma visita científica e o lugar, de fato, está repleto de pessoas, digamos, malucas, assim mais ou menos como eu! Aliás, nesta visita, eu passei uma semana em Roma, onde obviamente fiquei por uma tarde inteira no Vaticano, e uma semana no CERN, que são os dois locais de locação do filme. Como eu acredito em tudo, concluí que sou predestinada!!!!! Em algum canto do Cosmos, em alguma configuração astrológica, em alguma combinação numérica envolvendo meu nome e minha data de nascimento, estava escrito que minha viagem seria espelhada no filme! É, é um tabefe do destino no meu rosto!

A eleição acabou. Venceu a Mecânica Quântica. Nos próximos dias sai o post. Uma ótima semana a todos. Sem anjos e sem demônios...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Sobre médicos e loucos


Um tempo atrás publiquei um post falando da farsa que é a homeopatia. Eu queria ter falado também sobre acupuntura, mas não deu espaço. Eis que hoje, lendo a Folha de São Paulo, vejo esta linda notícia sobre um estudo publicado na revista Archives of Internal Medicine, da Associação Médica Americana. Neste estudo, os médicos fazem um tratamento usando a acupuntura e um outro usando palitos de dente, em pacientes que sofrem de lombalgia. Resultado? Eu não precisava ter lido até o fim, já sabia... Mas vamos lá. No caso com os palitos de dente, eles construíram algo que parece que finca na pele mas não finca, simplismente cola. E mais, os palitos foram aplicados completamente longe dos locais que acupuntura diz que devem ser aplicados - no chamado alinhamento dos "chakras". Pois bem, uma quantidade igual de pacientes, os da verdadeira e os da falsa acupuntura, relataram melhoras!! Ou seja, não existe diferença entre o "real" e o placebo, significando que tudo é pura sugestão mesmo, o efeito da melhora é porque o paciente estava convencido que iria melhorar... Sei que não vai adiantar, as pessoas vão continuar procurando estes tratamentos milenares, porque se é milenar deve ter um fundo de verdade! O fato é que não, não tem. O fato de ser milenar só significa que as pessoas adoram um auto-engano a milênios... Nada mais do que isto.

Aliás, falando nisto, outro dia fiquei sabendo que a faculdade de Medicina de Botucatu organiza um encontro de médicos espíritas. Tem até uma tal de "Dra." Niura Padula, que é docente do departamento de Neurologia e Psiquiatria, que é especialista em "Quociente Espiritual"! Psiquiatra? Definitivamente, acho que ela precisa de um! Eu imagino uma pessoa altamente deprimida e com tendência suicida chegando para uma consulta. E imagino ela hesitando entre dar um antidepressivo e um estabilizador de humor ou receitar um passe... O que quero dizer é que ela pode acreditar no que ela quiser, mas não misture isto com medicina... Não sei não, mas acho que deveria ser obrigatório nas faculdades de medicina uma disciplina sobre método científico. Eles poderiam, por exemplo, passar durante todo o semestre o seriado House - que é o melhor programa da TV em muito tempo, além de estar repleto de lições sobre o método científico. Ou, se os estudantes e professores acharem muito complicado, eles podem passar o seriado Scooby-doo! Que também é ótimo para o método científico.

Boa sorte na sua próxima consulta!

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Parece que milagres acontecem mesmo!


É, por mais incrível que pareça, meu blog foi indicado. E eu aqui, não acreditando em milagres... Que erro...


quarta-feira, 15 de abril de 2009

Definitivamente, sou indeterminável



A cena é a seguinte: um bar enfumaçado (por enquanto, pelo menos em São Paulo) e muito barulho com muita gente falando. Estou com uma amiga e ouço as conversas das pessoas próximas. As conversas são parecidas: ele não larga do meu pé, ela diz que fomos feitos um para o outro, ele diz que era para ser não ficarmos juntos, ela diz que tinha certeza que nos encontraríamos como nos encontramos, outra diz que se é para ser então será etc. Alguém chega para falar. Respondo. A pessoa pergunta meu signo. Respondo. A pessoa diz que é típico de alguém do meu signo ser assim, ser assado. Bocejo... O que quero dizer é que parece que estamos imersos num profundo estado de inanição intelectual, parece que vivemos conformados em uma filosofia do tipo "aconteceu porque era para acontecer". Mas será que é assim mesmo? Você acredita em destino? Eu estar em São Paulo hoje é independente de uma suposta vontade ou poder de decisão que eu tenho ou tive em algum momento da minha vida? Eu esbarrar com alguém na rua amanhã está "escrito" ou é algo totalmente imprevisível? Em suma, o mundo é pré-determinado?

Adoraríamos prever o futuro. O fato de apelarmos para cartomantes, videntes etc é uma demonstração que acreditamos que existe um futuro a ser previsto, uma evidência forte de que acreditamos que existe o amanhã, o porvir. Esta crença é o que nos mantém "equilibrados" na maior parte do tempo, pois acreditamos que embora agora eu não esteja fazendo algo, digamos, prazeroso, sempre tenho o amanhã. Só que o amanhã é uma abstração completa, não existe, para mim pelo menos... O mundo não seria incrivelmente chato se pudéssemos saber sobre o futuro? A certeza não é chata? Eu acho chata, embora reconfortante em alguns momentos. Mas prever o futuro tem lá os seus problemas. Por exemplo, se você sabe quais são os números da Megasena do sorteio de amanhã então o seu vizinho também poderia saber. E o vizinho do vizinho e assim por diante. Logo, todos os jogadores acertariam a Megasena de amanhã e o prêmio de cada um seria praticamente zero. Assim, não poderia existir a Megasena em primeiro lugar, porque ela não faria sentido. O mesmo raciocínio vale para as mais diversas situações da nossa vida. Extrapolando, a própria vida humana organizada em sociedade teria enormes dificuldades de se manter se pudéssemos prever o futuro. Sem falar que a taxa de suicídio tenderia a ser extremamente alta... Mas e em princípio, em tese, existe a possibilidade de o mundo ser pré-determinado, mesmo que não tenhamos acesso ao que já está "escrito"?

Tenho que admitir que a física, a física de Newton em particular, tem a sua parcela de culpa na crença de um futuro previsível. Exemplo: quem fez vestibular algum dia deve ter respondido, ou tentado responder, alguma questão envolvendo o lançamento de uma bola, onde deve-se calcular qual a altura máxima que a bola atinge etc. Ou seja, as equações prevêem o futuro movimento da bola. Assim, generalizando, poderíamos em princípio escrever as equações para todas as partículas, cada átomo do universo, resolver estas equações e descobrir qual o estado de cada uma destas partículas no futuro. Seria um número um pouco além do absurdo de equações, impraticável, mas em tese possível. Neste sentido, o mundo seria determinado, pois todas as nossas ações, atos, pensamentos etc correspondem a um determinado estado, único, do universo. Se sabemos este estado, e sabemos por Newton como ele evolue no tempo, sabemos o passado, o presente e o futuro... Acontece que sempre tem um porém. No caso, eu vou discutir dois: caos e mecânica quântica.

Caos é o oposto de ordem. No nosso caso, se refere a algo que não podemos prever, mesmo que saibamos as equações que governam o sistema. Um exemplo: os sinais elétricos do coração humano podem se tornar caóticos, levando a fibrilação, o que aliás pode explicar o porque da minha vida amorosa ser um caos total!! Mas falando sério, o fato de as equações não fornecerem uma resposta determinada para um evento futuro, mesmo dentro da física de Newton (mas é algo que vai além dela), impõe uma barreira praticamente dentro do impossível para, mesmo em tese, o futuro ser determinado.

Na mecânica quântica a coisa é ainda um pouco pior. Isto porque a mecânica quântica é intrinsicamente uma teoria que diz que eventos futuros têm apenas certas probabilidades de acontecerem. É exatamente por isto que uma pessoa como Einsten nunca aceitou a forma final desta teoria, dada pela interpretação de Copenhague (não vou discutir muito esta interpretação aqui, mas é uma pena que a bela peça teatral Copenhague, em cartaz em São Paulo nos anos de 2002/2003, não esteja mais sendo encenada), uma não aceitação bem representada por sua famosa frase "Deus não joga dados com o mundo". O fato é que joga, já que experiências feitas nos últimos 10-20 anos, que nos anos 30 poderiam ser apenas imaginadas, mais e mais confirmam a interpretação probabilística da mecânica quântica. Nesta interpretação, um fenômeno futuro tem apenas uma probabilidade de acontecer. Se tentamos descobrir qual é o resultado, alteramos este mesmo resultado que queríamos descobrir em primeiro lugar: ao tentar descobrir o que vai acontecer, nós alteramos o que aconteceria (aconteceria mesmo?) caso não tivéssemos tentado descobrir... É como um jogo de gato-e-rato infinito! Assim, o futuro é (de novo) intrinsicamente indeterminado, nem em tese podemos saber o que vai acontecer.

Acho que algumas pessoas podem não gostar disto (alguns colegas meus não concordam) pois esta indeterminação dá margem a questões como livre-arbítrio etc. Não vou discutir isto hoje, pois o post já está longo demais, além de sério demais...

Meu conselho: intetermine-se!

quarta-feira, 18 de março de 2009

A probabilidade de eu encontrar você é...



A figura aqui do lado é um barato. Qualquer pessoa que já viu um gráfico de bolsa de valores vai dizer, sem pestanejar, que este é um tipo gráfico das variações da bolsa, principalmente estas quedas e subidas abruptas, típicas destes tempos de crise financeira. De onde eu tirei esta figura? No fim de semana que passou eu estava entediada e pensei em fazer a seguinte brincadeira: O que acontece se eu escrever um pequeno programa de computador que, para cada intervalo de tempo fixo (um minuto, uma hora, um dia, seja lá o que for) simula uma moeda sendo jogada para cima? Escrevi este programa e pedi para ele fazer o seguinte: Começando do número 100, se der cara o programa adiciona um ponto, se der coroa o programa subtrai um ponto. E vai somando. O resultado é a figura acima. Ou seja, partindo de jogadas completamente aleatórias, ´é possível reproduzir um comportamento idêntico ao visto nas bolsas! Conclusão? Próximo parágrafo...

Quem acompanha o mercado diariamente com certeza escuta as mais variadas explicações, dadas pelos Galinhos e pelas Channeletes, para as causas da bolsa ter subido ou caído em um dia em particular. O que o gráfico acima diz é que este palavrório todo é besteira, o sistema é completamente aleatório! Como muita coisa na vida, aliás... E é muito interessante porque, mesmo que a probabilidade da moeda em meu programa fornecer cara ou coroa seja a mesma, existe uma clara subida, de cerca de 100%, no intervalo de tempo considerado. Isto não é uma contradição, pois se eu deixar o programa rodar por um intervalo de tempo suficientemente longo, o gráfico vai necessariamente cair para 100 pontos novamente... Louco, não?

Vocês continuam confiando nos analistas financeiros? O mundo é uma probabilidade, apenas isto. Apenas uma probabilidade para exigirmos demais dele.... Eu vou continuar este tema e este post. Por enquanto, boa sorte com as economias de vocês!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A imagem da imagem da imagem...


Somos um país careta. E um país de bisbilhoteiros. Estas foram as duas coisas que mais me chamaram atenção quando voltei a morar no Brasil no final do já distante ano de 1996. Por 4 anos, morei em Adelaide, Austrália, uma cidade de 1 milhão de habitantes, pequena (portanto) comparada com São Paulo. Nos primeiros dias eu fiquei realmente chocada com a quantidade de nudez nos outdoors e em programas de televisão. Não, quem me conhece sabe que estou longe de ser uma pessoa puritana. De qualquer jeito, foi chocante. Seria de se esperar portanto, que o país fosse o paraíso da liberdade e dos costumes sexuais e todos os temas correlatos. Me enganei. Ao contrário, o país era (e é) o paraíso da ... hipocrisia. É o país em que a famosa frase sobre a mulher de César (Não basta ser honesta, tem que parecer honesta) foi subvertida. Aqui, não é preciso ser algo, é preciso apenas parecer ser algo... Somos uma país de imagem. Vivemos de imagem. Vivemos enganando a nós e aos outros. Nada mais anti-iluminista do que isto.

Hoje, caminhando na Av. Paulista como sempre faço, parei em uma banca de revista e li na capa da revista Carta Capital desta semana, uma frase de Charles Darwin a respeito dos brasileiros, escrita na década de 1830. Ele diz: ... Ignorantes, covardes, indolentes ao extremo; hospitaleiros e bem humorados enquanto isto não lhes causar problemas; temperados, vingativos, mas não-explosivos. Poderia ter sido mais certeiro? O triste é que pouco mudou... Somos um país de caráter fraco. Somos, atualmente, um país que as pessoas têm orgulho da sua superficialidade. Vejam por exemplo o caso do lenço palestino. Em uma matéria da Folha de São Paulo do dia 24/01/2009, vários frequentadores da SPFW usavam o lenço. Questionados sobre o conflito na Palestina, responderam que ignoravam. Falavam do lenço como algo que agora era tendência, estilo... Evoluímos para involuírmos? E estas pessoas fazem parte daquele pequeno percentual que, de uma maneira ou de outra, chamamos de "elite"... Aliás, falando de elite, alguém lembra da reação do nosso glorioso ministro (sic) das relações exteriores, Celso Amorim, a respeito dos "ataques" a brasileira na Suiça? Dizia ele que era claramente um sinal de xenofobia. O nosso também glorioso presidente (sic) foi na mesma direção. Falaram sem conhecimento de causa, falaram porque, algo comum por aqui, ambos têm um complexo de inferioridade enorme. Agora que, aparentemente pelo menos, ficou claro que a brasileira em questão mentiu, eles vieram a público pedir desculpas ao governo e ao povo Suiço? Obviamente que não. Eles estão acostumados com o Brasil, onde todo mundo chama todo mundo de qualquer coisa e fica tudo por isto mesmo. O mesmo acontece com os leitores que mandaram cartas indignadas para os jornais, falando da reação da Suiça com o caso. Somos ótimos em acusar. Somos péssimos em reconhecermos que erramos. A mesma crítica vale para a tal "esquerda" brasileira. Esta é talvez o maior dinossauro do país, provavelmente em termos de atraso se compara a direita dos velhos coronéis. Pensar e criar é difícil. Repetir bordões antigos é fácil.

Eu atualmente moro em um bairro que concentra parte desta "elite" burra e careta deste país. E as vezes, andando nas ruas, eu fico desconfiada que estamos em algum ano anterior ao ano de 1888. Isto porque são incontáveis as "mães" e "pais" que vão aos cafés e aos restaurante com seus filhos pequenos e ... uma mulher, toda vestida de branca, em geral de cor negra, que cuida dos filhos... Como? Eu até entendo que você tenha alguém para ajudar, mas domingo a tarde, você não brincar, não alimentar, não educar seus filhos, não querer um momento a sós com eles? Não é só um total distanciamento emocional, é esquisito mesmo. Além de ser um resquício da escravidão. E os salários destas empregadas domésticas? Em geral, são na faixa dos R$500,00 ou R$600,00 mesmo. Mas veja, eu sou amiga da minha empregada!! Eu trato ela bem, como se fosse da família!! Então você paga um salário de fome para alguém da sua família? Acho que nunca leram sobre as estimativas do DIEESE para um salário digno... Ah, mas você está ajudando a combater o desemprego, a empregada deveria estar agradecida a mim! É ao contrário, é você quem deveria estar muito agradecido(a), pois a pessoa está dedicando a coisa mais preciosa que ela tem na vida a você: O tempo dela... Mas não adianta, ainda vivemos por aqui os fortes ecos da escravidão. Não é coincidência, aliás de novo, que os dois países mais superficiais do ocidente são exatamente o Brasil e os Estados Unidos, principalmente a parte sul deste.

E as marcas de grife? Apenas no Brasil pessoas pagam R$1000,00 por uma calça jeans, pessoas que economizam para esta finalidade, só para virem a público desfilarem e dizerem, de maneira subliminar, eu posso... Andando nas ruas e observando, muitas vezes eu tenho vontade de vomitar com esta necessidade das pessoas em promover uma imagem falsa. Conheço pessoas, de novo, da dita "elite" que compram destas roupas quando são aprendidas pela receita federal, ajudando a perpetuar esta interminável cadeira de corrupção que vivemos... Tudo para parecer. Quase nunca para ser. As pessoas não têm gosto, têm apenas (muitas vezes) a cópia falsificada da última bolsa de alguma grande marca internacional...

Eu não estou deprimida, juro!!!!!!!!! É que a leitura desta capa da revista detonou toda esta pequena reflexão... E amanhã começa o carnaval. Atualmente, a festa mais careta e sem graça do país!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Então é um novo ano




Uns dias antes do Natal eu estava em São Paulo em um bar com duas amigas. As duas são bonitas, inteligentes, culturalmente e socialmente de um nível elevado e estávamos num belo papo até que eu fiquei sabendo que uma amiga delas estava chegando e elas estavam com medo que eu não me "comportasse" na presença desta muher. Por que? Ela era uma astróloga, astróloga de profissão, astróloga das duas! Quem me conhece um pouco sabe que eu tenho um pavio curto quando o assunto é astrologia e afins. Bom, ela chegou, uma mulher simpática, e já nos cinco minutos de conversa ela solta algo como "agora que que a lua está passando por saturno..." (ou algo do tipo). Levei um beliscão por baixo da mesa de uma das minhas amigas quando eu fui abrir a boca, mas ainda assim tive que falar: Tudo isto é lixo, culturalmente relevante, mas lixo! Eu sei, eu deveria me conter, mas esta é uma das poucas situações em que o meu sangue realmente ferve! No fim conversamos bastante, mais ainda quando a astróloga ficou sabendo que eu era física etc. No fim, dados meus argumentos contra a astrologia, a desculpa foi a de sempre: A astrologia é uma linguagem figurada, uma simbologia, toda a conversa da posição dos astros apenas traduz um certo "estado" do universo naquele instante. Mas se é só uma representação simbólica, por que a posição e horário exatos do meu nascimento são informações relevantes? Ainda mais, como mostrei noutro post, que a posição que os astrólogos usam é a errada... Mas esta não é a razão principal do post de hoje. O que eu quero discutir é: Por que pessoas como estas duas amigas precisam acreditar em astrologia, numerologia (a astróloga disse que tinha uma numeróloga ótima para apresentar para elas...) etc? Por que precisamos de bengalas para atravessar a vida?

Eu penso bastante sobre esta questão. Na verdade, escrevo hoje de um bar na beira da praia, num dia de chuva, no segundo dia do ano, e com a praia deserta. É ótimo, poucas cenas para mim são mais lindas do que uma praia deserta com chuva. A praia é a Brava. O bar é o Pirata. O ambiente é composto de várias mesas com casais, grupos de amigos, argentinos, gays, uma mulher que se acha a cópia da Ana Hickmann e um carioca chato que toda a vez que a namorada vai no banheiro vem até a minha mesa pedir meu telefone. O que só confirma que realmente os homens vieram com defeito de fábrica... Mas este ambiente, observando as pessoas, é ótimo para escrever sobre os motivos de acreditarmos em um monte de coisas desbaratadas. Anos atrás, vários anos atrás, um psicanalista amigo meu de Porto Alegre me disse que o maior problema do ser humano é manter a cabeça ocupada. Eu não sei se é o maior, mas com certeza coloco entre os maiores. E por que manter a cabeça ocupada? Eu desconfio que é porque se você não a ocupa com algo do tipo construir grandes coisas, ganhar dinheiro, conquistar pessoas, fazer sucesso, comprar compulsivamente etc, o que sobra é solidão mesmo... E temos um medo terrível da solidão. Solidão é a sala de estar da morte... Acho até que as pessoas que mais buscam poder, por exemplo, são as que mais temem morrer e, por consequência, as mais intimamente sós e as mais crédulas. Eu particularmente acho patético pessoas, depois de uma vida, com medo de morrer. Morrer faz parte... De qualquer maneira, pessoas incrivelmente poderosas tipo Stalin, o primeiro imperador da China, Ronald Reagan, para ficar em uns poucos mais famosos, tinham astrólogos particulares. O primeiro imperador chinês empreendeu uma busca tremenda atrás da imortalidade. Os faraós também. Este medo terrível da morte é, para mim, uma grande ferida no ego das pessoas: Como EU, grande como sou, posso desaparecer? Se eu morro, que sentido tem a vida? Não me pergunte... Mas eu acredito no amor, no amor entre as pessoas, acho que é uma das poucas coisas que realmente dá sentido a vida. Pelo menos é o que me mantém, literalmente, viva... Além da física e de um bom espumante, é claro! De qualquer maneira, eu vejo astrologia, numerologia, quiromancia, leitura de cartas etc, toda esta pirotecnia amalucada, como uma tentativa desesperada de ter algum poder sobre o futuro, algo como galhos na beira de um precipício que tentamos desesperadamente, e inutilmente, agarrar para evitar a queda...

Outra razão para crermos em esquemas superiores que governam nossa personalidade é nos livrarmos da responsabilidade por nossas escolhas. É mais fácil eu justificar minhas ações dizendo que eu sou do signo de áries, ou do signo do rato no horóscopo chinês, ou sou o número 9 no eneagrama, ou que o número 7 governa minhas ações segundo a numerologia, ou qualquer outra coisa, do que eu assumir que fiz o que fiz por uma escolha minha. E que não fui forte o suficiente, ou honesta o suficiente, para viver alguma outra escolha. Ser honesto consigo mesmo é dificil. Jogar a responsabilidade para os outros ou para algo pré-determinado na minha vida é sempre a escolha mais fácil. Na verdade, me parece ser uma falta de coragem e uma tremenda covardia perante a vida jogar nos outros, ou no "destino", ou nos astros, consequências de ações que são nossas e apenas nossas...

Então um 2009 com mais responsabilidade por si mesmo e com mais amor entre as pessoas. De fato esta é minha mensagem para o ano novo: Mais amor. Falo isto sem ironia ou sarcasmo... Feliz ano novo!!!